Uma viagem serve para muitas coisas, inclusive pra gente observar ainda mais de perto o comportamento das pessoas. Com alguma sorte a gente aprende também.
Durante o trajeto de carro que fizemos de São Paulo até Sergipe (e depois de Sergipe a Minas, e de lá pra Sampa novamente), muitas vezes a Agnes ficava estressada e começava a chorar. Era calor demais, muito tempo sentada, muito tempo na mesma posição, confinada dentro de um espaço muito pequeno e com pouquíssimas possibilidades de se mexer e se entreter. Super normal ela se zangar, nem a gente aguentava tudo sorrindo e achando lindo, não há motivos para cobrar isso dela.
Quando parávamos o carro, algo mágico acontecia. Qualquer choro ou reclamação que ela pudesse estar demonstrando cessava imediatamente. Adorava sair do carro e queria logo ir pro chão esticar as pernas, leia-se: correr por todo lado, explorar o lugar, andar de um lado pro outro como se não houvesse amanhã. Ela sorria, andava, corria, conversava, brincava com a gente, mexia com as pessoas, tentava pegar tudo ao seu alcance. Muitas vezes a gente queria entrar e comer logo alguma coisa, mas sempre ficávamos mais um pouquinho lá fora pra ela curtir, ou então nos revezávamos nos cuidados. Os lanches dela acabavam sendo melhor aproveitados nos carro mesmo, porque lá fora o negócio era andar.
Era lindo de ver. Uma entrega, um desprendimento. Ela realmente estava vivendo o presente, como sabe fazer tão bem.
Do outro lado, não era raro acontecer de nós, adultos, descermos do carro e emendarmos uma conversa (ou um comentário solto que fosse) sobre como estávamos cansados, ou sobre como o trânsito estava ruim, ou sobre o quanto já estaríamos adiantados se não fosse aquele trecho lá atrás, onde aconteceu isso, isso e mais aquilo outro. A gente não se desligava.
Por sorte – e eu digo sorte porque não sei que outra palavra usar – percebi isso em tempo e reprogramei minha mente. Consegui curtir a viagem em sua totalidade, aproveitando todos os momentos realmente em tempo real, enquanto eu estava ali. Não me foquei no que deixei pra trás, nem nos problemas, nem no que ainda estava por vir, nem na chegada aos nossos destinos. Não pensei muito nem nas pessoas que nos esperavam, pra ser sincera – só mesmo o suficiente para mandar notícias de vez em quando, claro. Posso dizer que foi uma experiência ótima, que me trouxe uma sensação total de leveza. Leveza no sentido de não carregar os pesos que já tinham passado, de não prolongar o stress de 2 horas atrás, de não tentar prever a próxima parada. Apenas viver o presente, com o que quer que ele me traga.
Consegui. Estou tentando me manter assim ainda, mesmo já tendo retornado há dias. Parecia mais fácil lá na estrada, não sei porque. Aqui eu preciso “me lembrar” mais de ser assim, lá foi algo natural. Talvez aqui eu tenha mais distrações, não sei. Mas fica a pergunta: por que é tão difícil viver o presente? Por que a gente se prende ao que aconteceu lá atrás, ou sofre por antecipação por algo que ainda nem chegou, e se esquece de apenas olhar realmente para o que estamos vivendo agora? Quando é que a gente perde essa essência de só sair correndo quando podemos, ao invés de lamentar pelo tempo que ficamos sentados?
Observar minha pequena moça nessa viagem foi um aprendizado e tanto. Que bom tê-la por perto, para me fazer lembrar do que realmente importa, seja onde for.